sábado, 6 de fevereiro de 2010

a lenda de eco e narciso

John William Waterhouse (1849-1917), Echo and Narcissus.


Certa vez, a ninfa Eco passeava por um bosque quando viu Narciso que andava à caça pela montanha. Como era belo o jovem, e como era forte a paixão que a assaltou! Seguiu-lhe os passos e quis dirigir-lhe a palavra, dizer-lhe o quanto o queria... Mas não era possível (era preciso esperar que ele falasse primeiro para então lhe responder). Distraída com os seus pensamentos, não percebeu que o jovem se aproximara. Tentou esconder- se rapidamente, mas Narciso ouviu o barulho e caminhou em sua direcção:
- Está alguém aqui?
- Aqui!
- respondeu Eco. Narciso olhou em volta e não viu ninguém. Queria saber quem se estava a esconder, e quem era a dona daquela voz tão bonita.
- Vem - gritou.
- Vem! - respondeu Eco.
- Por que foges de mim?
- Por que foges de mim?
- Eu não fujo! Vem, vamos juntar-nos!
- Juntar! - a donzela não podia conter sua felicidade ao correr em direcção do amado que lhe fizera tal convite. Narciso, vendo que a ninfa corria na sua direcção, gritou:
- Afasta-te! Prefiro morrer do que me deixar possuir!
- Possuir... - disse Eco.
Foi terrível o que se passou. Narciso fugiu e a ninfa, envergonhada, correu a esconder-se no refúgio dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitava o contacto com os outros seres e não se alimentava. Com o desgosto, o seu corpo foi definhando até que as suas carnes desapareceram completamente. E os seus ossos se transformaram em rocha. Nada restou para além da sua voz. Eco, porém, continua a responder a todos que a chamem, e conserva o costume de dizer sempre a última palavra.

Não foi em vão o sofrimento da ninfa, pois do alto do Olimpo, Nêmesis vira tudo o que se passou. Como punição, condenou Narciso a um triste fim, que não demorou muito a ocorrer. Havia, não muito longe dali, uma fonte clara, de águas como prata. Era linda, cercada de relva viçosa, e abrigada do sol por rochedos e árvores que a cercavam.
Ali chegou um dia Narciso fatigado da caça, cheio de calor e sede. Narciso debruçou-se sobre a fonte para se banhar e viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro de água.
"Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!", disse, admirando os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim.
Apaixonou-se pelo aspecto saudável e pela beleza daquele ser que, de dentro de água, retribuía o seu olhar. Baixou o rosto para o beijar e enfiou os braços na água para abraçá-lo. Porém, ao contacto dos seus braços com a água, o rapaz desapareceu para voltar instantes mais tarde, tão belo quanto antes.
- Porque me desprezas, bela criatura? E por que foges ao meu contacto? O meu rosto não deve causar-te repulsa, pois as ninfas amam-me, e tu mesmo não me olhas com indiferença. Quando sorrio, também tu sorris, e respondes com acenos aos meus acenos. Mas quando estendo os braços, fazes o mesmo para então desapareceres antes que te consiga tocar.
E as suas lágrimas caíram na água, turvando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:
- Fica, peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixa-me pelo menos admirar-te.
O belo Narciso, ficou dias sem fim a admirar a sua própria imagem na água, esquecendo-se de se alimentar e o seu corpo foi ficando cada vez mais fraco.
E assim Narciso morreu. As ninfas choraram o seu triste destino...No lugar onde faleceu, entretanto, as ninfas encontraram apenas uma flor amarela, rodeada de pétalas brancas. E, em memória do jovem Narciso, aquela flor passou a ser conhecida pelo seu nome.


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