Quem segue este canto sabe que o Sad Eyes do blog Good Friends Are Hard to Find me lançou o desfio de ser o primeiro a escrever uma história no "The Book of Distance". Quem não sabe destas andanças, o melhor é ir aqui e aqui para saber as regras do 'jogo' e assim ter um contexto melhor. Neste momento vou só apresentar a história que posteriormente será escrita no livro e enviada ao próximo participante.
Como sabem, após a publicação do meu texto cabe-me a mim escolher quem se seguirá neste desafio e portanto, um de vós receberá um e-mail com esse convite.
Dentro
Este sitio é claustrofóbico. Sento-me na borda da cama e só vejo estas paredes que me sufocam. Dobrado sobre mim olho as minhas mãos e finalmente percebo. Tudo o que eu quis ser, todos os sonhos sonhados foram adiados eternamente, agora posso ter a certeza absoluta que a vida que sonhei nunca desfilará à frente dos meus olhos. Tudo por causa de ti e destas quatro paredes onde me forçam à monotonia dos dias, dias que correm uns iguais aos outros, indiferenciados.
Conto a distância através dos passos enquanto circulo. Cada passo como uma passagem do calvário. Ao primeiro passo, fecho os olhos. Vejo-te a sorrir para mim com aquele sorriso só teu. Vejo um turbilhão de imagens, vejo a vida correr à frente dos meus olhos como dizem que as pessoas vêm antes de morrer. Na realidade estou morto. Não tecnicamente, mas estou. Longe de ti não sou ninguém.
As coisas simples são as que mais falta me fazem. Passear num parque. O ar puro. Adormecer na praia ao fim do dia ao som das ondas e das brincadeiras das crianças. As gargalhadas entre amigos à volta de umas imperiais. A chuva inesperada à saída de um cinema onde vimos um filme de mãos dadas. Estas imagens ecoam-me na cabeça como feridas que não saram. É uma vida que não volta, uma vida separada por estas paredes que teimam em me afastar de tudo o que eu fui.
Neste sítio não há relógios! É o tempo sem tempo. É o tempo esvaziado de tudo de que eu era feito. Se houvessem relógios podia esperar pela tua visita, podia esperar por ti e voltar a abraçar-te com todas as minhas forças. Como no tempo em que éramos um só, a minha pele era a tua e o teu corpo era só meu.
Se não estivesse aqui dentro, correria atrás de ti até ao fim do mundo porque apesar de todas as distâncias estaremos sempre juntos. Seremos sempre tu e eu parados no tempo. Sei que os meus passos nunca mais me aproximarão de ti, nem voltarão a percorrer os caminhos que fizeram de nós o que fomos.
Hoje, preso a estas paredes de que não posso fugir, resta-me apenas lembrar o quanto fomos felizes.
domingo, 10 de junho de 2012
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Lindo! E olha que eu não digo isto muitas vezes xD
ResponderEliminarEstás de parabéns, adorei ^^
Obrigado Ricardo. Fico contente que tenhas gostado ^^
EliminarAbraço :)
Muito bom! Gostei muito do tom muito triste, mas resignado (ao invés de revoltado) que acentua a distância. Gostei também que a distância não fosse uma mera distância física (podiam estar um de cada lado das paredes), mas uma distância emocional, de quem sabe que não pode voltar a sentir determinadas coisas e a experimentar certas sensações, o que é ainda mais angustiante e claustrofóbico.
ResponderEliminarParabéns! Excelente abertura para o "Book"!
Um crítica destas vinda dum 'expert' como tu dá-me muita alegria sobretudo porque mostra que as minhas intenções conceptuais passaram para este texto que por ser dado a interpretações algo ambíguas poderia correr o risco de ficar demasiado encriptado.
EliminarUm abraço :)
Eu sou só um leitor... :D
EliminarMas acredito que a ficção de qualidade tem que ter sempre uma certa ambiguidade que permite várias leituras, como é o caso deste teu texto.
Também gosto de textos mais abertos. A ambiguidade é uma riqueza para o leitor permitindo-lhe níveis de interpretação diferentes.
EliminarGosto muito! Intimismo, tristeza, desilusão... Todos estes sentimentos bem balançados contam a história e cria-se a atmosfera! Parabéns! Estou muito curiosa e expectante relativamente ao desenvolvimento desta ideia! Começou bem! Beijos
ResponderEliminarSem as nossas conversas o texto não seria o mesmo, tu és uma amiga preciosa :)
EliminarBeijos imensos.
Belo início de uma nova iniciativa do Sad eyes.
ResponderEliminarMuito bem escrito, dá-nos todas as "pistas" para nos apercebermos do estado de espírito do autor.
Não entendi bem uma coisa do regulamento. Cada história é uma situação estanque, ou há um grau de relacionamento entre as diversas histórias?
Obrigado João. Fico contente por saber a tua opinião e tenho pena que mais gente não comente mesmo não gostando do texto.
EliminarPenso que isso fica em aberto dependendo da vontade de cada participante. Mas o Sad (ele anda sem net e por isso ainda não veio aqui) é a pessoa ideal para esclarecer isso.
Abraço.
É verdade, ando sem net, mas estava ansioso por vir aqui :)
ResponderEliminarAdorei o começo do Book. É uma histórias lindíssima sobre distância e certamente será inspiradora para os restantes.
Respondendo ao João, o que se pretende é que cada um escreva uma histórias sobre distância, apenas com esse ele de ligação.
Esperemos agora que o Arrakis envie a caixa para bem longe :) e que venha de lá outra histórias fantástica.
Ainda bem que gostaste, fico super contente. :)
EliminarJá escolhi o próximo participante mas como ainda não me respondeu, estou a aguardar. Em breve penso que poderei anunciar o escolhido.
Aquele abraço.
Muito muito mto bom ;)
ResponderEliminarObrigado Non :)
Eliminarrepito o que já escreveram: gostei muito e fui transportada para esse quarto, a distância física e emocional tocou-me. e o sofrimento, também.
ResponderEliminarbjs.
Bem vinda a este canto Margarida. A melhor recompensa é saber que o texto consegue passar toda essa vertente emocional da distância.
EliminarBjs. :)
Olá!
ResponderEliminarAo ler no blog do João Roque a sua participação com a história correspondente à letra N, "Nunes", manifestei o meu interesse em conhecer as outras histórias e o blog dos seus autores. O Sad prontificou-se, elucidando-me sobre a forma de como o poderia fazer e assim, aqui estou começando pelo princípio, que é por onde se deve começar.:)
Apesar de triste e bastante amargurado, gostei muitíssimo deste belo texto sobre um conceito de DISTÂNCIA entre duas pessoas que já foram felizes.
Parabéns, Arrakis!
Beijo.
Olá Janita e bem-vinda!
ResponderEliminarFico muito contente que tenhas gostado do meu texto. Esta é apenas uma das muitas facetas da distância que o 'Book', tal como um caleidoscópio, ilustra através dos seus contos.
Bjs.