sexta-feira, 18 de junho de 2010

as tapeçarias de Pastrana

Hoje eu e a PM tivémos novo almoçinho cultural e fomos ver as extraordinárias tapeçarias de Pastrana ao Museu de Arte Antiga. Uma oportunidade única que não podiamos perder e que desde já aconselhamos a quem se interesse minimamente por história e arte.



Pela primeira vez, as quatro Tapeçarias de Pastrana encomendadas por D. Afonso V - enormes panos de armar com quatro metros de altura e 10 de largura - podem ser vistas (até 12 de Setembro) no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa. Desde o século XVI que as tapeçarias - agora completamente restauradas, num processo conduzido pela fundação espanhola Carlos de Amberes - não estavam reunidas em Portugal.



D. Afonso V não pôde levar consigo repórteres de imagem quando tomou Arzila e Tânger. Não houve reportagens em directo, relatos ao vivo por jornalistas a falar para as câmaras enquanto, ao fundo, as tropas cercavam as cidades do Norte de África e venciam batalhas. Estávamos no final do século XV e a forma mais aproximada que o rei português tinha de registar os seus feitos era mandá-los tecer em tapeçarias. Foi o que fez.


Como é que os quatro panos saíram do país é um mistério ao qual os historiadores não conseguiram ainda responder. "É muito misterioso", diz o director do MNAA, António Filipe Pimentel. Produzidas nas oficinas flamengas de Tournai no último quartel do século XV, "entrarão em Portugal provavelmente já no reinado de D. João II, e em 1532, poucas décadas depois de terem sido feitas, aparecem em Espanha, no inventário dos bens dos duques do Infantado". Como foram lá parar, ninguém sabe.



O que se sabe é que foram herdadas pelos duques do Infantado, que mais tarde as cedem à Colegiada de Pastrana, onde ficaram desde então. O mundo esqueceu-as. Até que, no início do século XX, os historiadores de arte portugueses José de Figueiredo e Reynaldo dos Santos as descobriram em Pastrana.

Nas três das tapeçarias - que contam o Desembarque, o Cerco e o Assalto a Arzila - o rei aparece identificado pelo seu estandarte, um rodízio que asperge gotas, e pela mais bela das armaduras e os mais ricos panos brocados. As tapeçarias (duas das quais foram cortadas em baixo) lêem-se como uma banda desenhada.



No Desembarque assistimos ao precipitar das tropas que enfrentam um mar agitado, seguindo o rei, que avançara primeiro para dar o exemplo. Mas alguns homens têm menos sorte do que o monarca e acabam por morrer afogados.

Na tapeçaria sobre o cerco, Arzila, com os seus telhados de telhas e as suas torres, parece uma cidade do Norte da Europa. Ao longe a frota portuguesa impressiona. Do lado esquerdo, o príncipe, do direito, o rei, a toda a volta os soldados, dezenas de rostos, de armaduras de pormenores (estes só se vêem verdadeiramente no pequeno filme de Catarina Mourão que passa numa sala lateral).



É por isso que a exposição se chama D. Afonso V e a Invenção da Glória. "Julga-se que terá sido após a [derrota na] batalha de Toro [1476], na altura em que D. Afonso V se retira para o convento do Varatojo, que encomenda este testamento político." Um gesto que faz dele muito mais do que um rei cavaleiro preocupado com conquistas, mas um homem já preocupado com a imagem que deixaria para as gerações futuras, "orientando a visão que a posteridade terá dele". Via "Publico".


Esta é a quarta tapeçaria, na minha opinião a mais deslumbrante em termos de cromáticos e de composição, embora em termos históricos não seja tão relevante como as outras três. Retrata a tomada de Tanger.

Uma oportunidade única e imperdível de ver estas verdadeiras obras-primas!

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